Para
educadores, prova de alfabetização exige medidas de melhoria no ensino
Os resultados devem utilizados para apoiar as
escolas que apresentem baixos índices de alfabetização
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante,
anunciou, na última segunda-feira, que pretende mudar a Provinha Brasil para
permitir que ela seja um “termômetro” do nível de alfabetização das
crianças no país.
O exame é aplicado desde 2008 a alunos do 2° ano do
ensino fundamental e servia como ferramenta de uso exclusivo do professor, para
que ele tivesse um diagnóstico de sua turma.
Com a mudança de finalidade, especialistas apontam
que o processo precisa ser feito com cuidado para que as crianças de 8 anos,
público-alvo da avaliação, não sofram pressão diante da expectativa de escolas
e redes de ensino pelo resultado.
— A alfabetização é um processo complexo que
envolve vários fatores, inclusive a questão familiar. As pesquisas apontam que
o nível de escolarização dos pais é determinante no processo de alfabetização.
Determinar uma idade certa para que a criança esteja alfabetizada, aos 7 ou 8
anos, é passar para ela uma responsabilidade que ela não tem condições de
cumprir, acredita o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à
Educação, Daniel Cara.
A professora da Faculdade de Educação da
Universidade de Brasília (UnB) Stella Bortoni defende que os resultados sejam
utilizados para apoiar as escolas que apresentem baixos índices de
alfabetização.
— Para levar um curso de educação continuada para
que os alfabetizadores tenham a oportunidade de se capacitar melhor, por
exemplo, é uma boa medida. A prova precisa resultar em políticas que visem
socorrer aquelas escolas ou sistemas cujos resultados estejam ruins, aponta.
A pesquisadora, especialista em alfabetização e
letramento, avalia que os cursos de formação de professor não dedicam esforço
suficiente para preparar os futuros alfabetizadores.
— Alfabetizar não é um bicho de sete cabeças, mas é
preciso formar bons alfabetizadores que saibam o que estão fazendo, diz. Ela
defende que a Provinha Brasil é um bom instrumento de avaliação e pode dar o feedback que o
sistema precisa para desencadear medidas de apoio.
Daniel Cara aponta que a pergunta central deve ser
“qual é objetivo da avaliação?”. “Se for para pressionar as redes e as crianças
a serem alfabetizadas na idade certa, não serve. Mas se for na perspectiva de
criar um pensamento de porque essas crianças não conseguem se alfabetizar,
quais são as dificuldades que elas têm, sim”, diz.
A julgar pelo uso que é feito dos resultados de
outras avaliações educacionais aplicadas pelo MEC, Cara defende que a mudança
na Provinha Brasil poderá resultar em uma “pressão equivocada sobre as
crianças” em vez de colaborar para processo de aprendizagem.
Para a presidente da União Nacional de Dirigentes
Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho, a mudança do perfil da
Provinha Brasil pode ter efeitos positivos “As avaliações organizam os
processos, se a redes souberem trabalhar e entender que são crianças de 8 anos
[participando do exame], nós vamos ter mais tempo para fazer um trabalho
coerente. Como sempre, na primeira vez, vai começar uma discussão de quem é
melhor, quem é pior. Mas a avaliação serve como diagnóstico para a gente mudar
essa realidade. Não temos nenhum problema com avaliação”, diz a presidente da
entidade.
Fonte: Correio do Brasil
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